20 junho em livraria


Pensador e filósofo português, autor de obras como Maquiavel & Herdeiros e tradutor de clássicos como O Príncipe de Maquiavel e o Tratado Político de Espinosa.

O tema deste livro é a democracia, vista através da obra de um dos seus primeiros teorizadores nos tempos modernos, porventura o mais radical, Baruch de Espinosa. A democracia não é aqui unicamente uma forma de governo; é, sobretudo, um princípio de organização da sociedade, que atribui a soberania à totalidade dos indivíduos, razão pela qual Espinosa considera o Estado democrático um Estado “totalmente absoluto”, um Estado em que o direito público equivale à “potência da multidão”. Se, de facto, “a natureza não cria nações”, como afirma Espinosa, e a organização de um agregado não tem fundamento senão na totalidade das vontades particulares que nele se confrontam ou associam, então, a verdadeira razão de ser da política é criar as condições para que o poder, que por natureza pertence à totalidade, não se torne exclusivo de nenhum particular e todos os indivíduos gozem de liberdade para participar na definição do que se diz comum. Entre governantes e governados, há sempre uma brecha, uma ferida permanente no seio da totalidade. O que distingue a democracia dos outros regimes é o facto de, por definição, ela contrariar a cicatrização dessa ferida, evitar que a desigualdade se instale como natural, mantendo acesa, se mais não for através da livre discussão, a ideia de um querer da totalidade, que está na origem e é fundamento de todo o poder. Reside aí o projeto de Espinosa. Reside aí, porventura, a sua atualidade.» | Diogo Pires Aurélio

 
Diogo Pires Aurélio é professor na Universidade Nova de Lisboa, autor e editor de várias obras publicadas em Portugal, Reino Unido e Brasil, a última das quais, Maquiavel & Herdeiros. Organizou ainda a coleção «Clássicos da Política». De Espinosa traduziu o Tratado Teológico-Político e o Tratado Político, ambos com diversas edições ou reimpressões em Portugal e no Brasil, tendo o último sido galardoado com o Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa em 2009, atribuído pela União Latina e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Traduziu, igualmente, O Príncipe, de Maquiavel, obra com a qual obteve uma Menção Honrosa do mesmo prémio, no mesmo ano.